“I do”

Estava no meu antigo apartamento. Sozinha, fiz minha maquiagem, aquela que você já me viu fazer- e aplaudo a paciência – tantas vezes. O batom vermelho, que pinta mais seus lábios que os meus, o delineador que emoldura meus olhos sem graça e que, de graça, se renderam a você. Fechei, me aventurando numa missão quase impossível, o vestido rendado. Enrolei o cabelo, o prendi. Não gostei, o soltei. Joguei-o para um lado e para o outro. Tanto implicou comigo quando, depois de duas taças de vinho, tornava esse jogo minha distração… Era verdade, afinal. Sorri. Um borroco de rímel no canto do olho. Ora, tanto faz! Tirei os saltos e deixei-os do lado da porta. Ele não se importa, eu pensei. Parado no altar, rodeado da luz do sol, eram tantas flores! Você e um sorriso. Você e os olhos de azeitona. Você e Deus, esperando por mim. Entrei, flutuando em passos largos. Nosso conto, nosso começo, nossas travessuras. Tudo fazia sentido. Sonhei com você, meu amor. Com o nosso casamento.

Anne Py